A sazonalidade climática (mudanças de estações do ano), com suas variações de umidade, pressão atmosférica e temperatura, desempenha um papel intrigante na saúde respiratória, especialmente durante o inverno. Mas como essas mudanças afetam pacientes com apneia obstrutiva do sono (AOS)? A resposta pode estar escondida não apenas nos dados clínicos, mas também em padrões comportamentais, como o aumento de buscas na internet por termos relacionados ao ronco (um sintoma frequentemente associado à AOS), principalmente na estação mais fria do ano.
O estudo global de Wang e colaboradores (2023) capturou esse fenômeno de forma objetiva ao analisar uma década de dados de buscas na internet (2011 – 2020), revelando que as pesquisas por "ronco" aumentam consistentemente durante os meses mais frios, um comportamento que se repete ano após ano, em diferentes latitudes. Essa variação sazonal, observada em escala populacional, vai além das percepções individuais e aponta para uma relação profunda entre os fatores climáticos e a dinâmica das vias aéreas durante o sono.1
Essa hipótese ganha ainda mais força quando observamos os dados de polissonografia. Pacientes avaliados no inverno tendem a apresentar mais eventos respiratórios durante o sono em comparação com aqueles estudados em outras estações. Cassol e colaboradores (2012) analisaram retrospectivamente informações de 7.523 pacientes, coletadas entre os anos 2000 e 2009 em um laboratório do sono no sul do Brasil. Seus resultados mostram que o índice de apneia-hipopneia (IAH) atinge seu ápice em julho e o ponto mais baixo em janeiro. Nos seis meses com clima mais frio, o IAH foi significativamente maior (17,8 [6,5-40,6/h]) do que nos seis meses com clima mais quente (15,0 [5,7-33,2/h], P< 0,001); ajustando para sexo, idade, IMC e circunferência do pescoço em um modelo linear generalizado, essa diferença permaneceu significativa (P=0,003). Além disso, naquele estudo o IAH correlacionou-se inversamente com a temperatura ambiente e diretamente com a pressão atmosférica, umidade relativa do ar e níveis de monóxido de carbono, sugerindo que a gravidade da apneia obstrutiva do sono pode estar associada a vários fenômenos epidemiológicos sazonais.2
Em linhas gerais, o que torna o inverno particularmente desafiador para quem tem AOS? A resposta parece estar em três fatores inter-relacionados: o ar mais seco que resseca as vias aéreas, a maior poluição atmosférica que irrita a mucosa respiratória, e a temperatura fria que induz a vasoconstrição nasal. Juntos, esses elementos criam um cenário perfeito para o aumento da resistência das vias aéreas superiores e eventos mais frequentes de obstrução durante o sono.1; 2
No entanto, temos boas notícias! Matsui e colaboradores (2023) observaram que pacientes com AOS moderada a grave que aderem consistentemente à terapia com CPAP têm menor probabilidade de contrair resfriado no inverno, especialmente pacientes apneicos jovens a de meia-idade. Os pesquisadores levantam a hipótese de que o CPAP, ao melhorar a oxigenação e reduzir o estresse inflamatório, pode fortalecer indiretamente a resposta imunológica — um achado que reforça a importância do tratamento contínuo, não apenas para controlar a apneia, mas também como estratégia preventiva contra infecções sazonais.3
Como Ramos-Xavier e colaboradores (2012) destacaram, precisamos de mais estudos multicêntricos em diferentes climas para entender plenamente essa relação.4 Enquanto isso, para os profissionais de saúde, fica o alerta: o inverno pode exigir atenção especial aos pacientes com AOS, desde ajustes no tratamento até orientações preventivas.
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WANG, P. et al. Does seasonality affect snoring? A study based on international data from the past decade. Sleep Breath, v. 27, n. 4, p. 1297-1307, Aug 2023. ISSN 1522-1709. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/36219385.>
CASSOL, C. M. et al. Is sleep apnea a winter disease?: meteorologic and sleep laboratory evidence collected over 1 decade. Chest, v. 142, n. 6, p. 1499-1507, Dec 2012. ISSN 1931-3543. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22700779>.
MATSUI, K. et al. Adherence to CPAP in summer to autumn predicts self-reported common cold symptoms in patients with obstructive sleep apnea in winter: A prospective observational study. Sleep Med, v. 104, p. 90-97, Apr 2023. ISSN 1878-5506. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/36906997>.
RAMOS-XAVIER, F. et al. Demand for multicentric climatic research to investigate the relationship between sleep apnea and other disorders and seasonality. Chest, v. 142, n. 6, p. 1689, Dec 2012. ISSN 1931-3543. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23208352>.
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