O prolapso palatal ganha especial relevância em pacientes em uso de CPAP, nos quais o fluxo expiratório exalado pelos pulmões pode impulsionar o palato mole contra a cavidade nasal, obstruindo a nasofaringe e convertendo a expiração em um processo predominantemente oral. Esse fenômeno pode explicar sintomas frequentemente relatados, como escape de ar pela boca e xerostomia durante a terapia pressórica, oferecendo uma base fisiopatológica para essas queixas clinicamente relevantes.
Pacientes com prolapso palatal geralmente apresentam uma “assinatura” característica no sinal da curva de fluxo respiratório, caracterizada pela limitação do fluxo exalatório (LFE). Esta mesma relação, entre prolapso palatal e limitação do fluxo exalatório (LFE), foi quantificada no estudo de Azarbarzin e colaboradores (Eur Respir J. 2018), demonstrando que 93% dos eventos de prolapso estão associados à LFE. Contudo, o mesmo estudo revela que 11% dos casos de LFE ocorrem independentemente do prolapso palatal, indicando a existência de outros mecanismos fisiopatológicos envolvidos na obstrução expiratória. Essa descoberta desafia a visão simplista que associa LFE exclusivamente ao prolapso palatal e ressalta a heterogeneidade fenotípica de pacientes com apneia obstrutiva do sono (AOS).
Com isso entende-se que a interpretação da limitação do fluxo exalatório deve ser cautelosa. Embora o sinal de LFE seja frequentemente atribuído ao prolapso palatal, é fundamental reconhecer sua natureza não específica. Outros fatores, como alterações na complacência faríngea, obstruções em diferentes níveis da via aérea, posicionamento ou mesmo variações na pressão de CPAP, podem produzir padrões semelhantes. Essa complexidade exige que o sinal seja interpretado como parte de uma constelação de achados clínicos e nunca como marcador isolado.
Em verdade, a investigação de pacientes que apresentam LFE em uso de CPAP requer uma abordagem diagnóstica sofisticada, integrando avaliação dinâmica da via aérea superior, análise precisa da curva de fluxo respiratório e caracterização individualizada dos padrões de obstrução. Instrumentos como a sono endoscopia (que permite a visualização direta dos movimentos palatais e sua relação temporal com os eventos respiratórios), avaliação anatômica da via aérea superior (realizada por profissional especializado) e interpretação de dados gráficos de alta resolução, em conjunto permitem uma estratificação mais precisa do mecanismo fisiopatológico para o escape de ar pela boca durante o sono.
E a abordagem terapêutica a ser adotada deve refletir essa compreensão multifatorial. Enquanto o prolapso palatal pode responder a ajustes na pressão do CPAP, posicionamento durante o sono, terapia mio funcional ou intervenções cirúrgicas específicas, outros mecanismos de LFE podem demandar estratégias distintas, como dispositivos de avanço mandibular, mudança de interface ou uso de queixeira, entre outros. A tomada de decisão deve ser guiada por uma avaliação interdisciplinar que considere não apenas os dados objetivos, mas também as características individuais do paciente, suas comorbidades e sua resposta às intervenções prévias.
Essa perspectiva ressalta a importância da medicina de precisão no manejo da AOS. O prolapso palatal e a LFE representam apenas parte de um espectro fisiopatológico complexo. Nesse contexto, o sinal da curva de fluxo expiratório deve ser valorizado como um elemento adicional - porém não definitivo - no arsenal diagnóstico, sempre contextualizado dentro de uma avaliação abrangente do paciente.
A evolução no entendimento desses mecanismos promete não apenas refinar nossas estratégias terapêuticas, mas também abrir novas fronteiras na personalização do tratamento da AOS.
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Azarbarzin A, Sands SA, Marques M, Genta PR, Taranto-Montemurro L, Messineo L, White DP, Wellman A. Palatal prolapse as a signature of expiratory flow limitation and inspiratory palatal collapse in patients with obstructive sleep apnoea. Eur Respir J. 2018 Feb 14;51(2):1701419. doi: 10.1183/13993003.01419-2017.
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