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Como a Apneia do Sono Atua no Seu Corpo?

Durante o sono, respirar deveria ser automático e tranquilo. Mas em quem tem apneia obstrutiva do sono, o ar encontra obstáculos para passar pela garganta — como se algo “fechasse a porta” da respiração repetidamente ao longo da noite. Mesmo sem perceber, o corpo luta para respirar, e o cérebro precisa interromper o sono por breves momentos para reabrir as vias aéreas. Esse ciclo pode se repetir dezenas de vezes por hora, fragmentando o sono e prejudicando a saúde de forma silenciosa³.

Cada vez que a respiração é interrompida por 10 segundos ou mais, o oxigênio no sangue diminui e o corpo precisa reagir rapidamente para retomar o fluxo de ar.

Com isso, o sono é fragmentado — perdendo sua profundidade e capacidade de restaurar o organismo. Com o tempo, essa repetição durante o sono pode impactar sua saúde física, mental e emocional4.

Os três tipos de Apneia do Sono

Apneia Obstrutiva do Sono (AOS)

A AOS é o tipo mais comum de distúrbio respiratório do sono. Ela acontece quando a passagem de ar pela garganta se fecha parcial ou totalmente durante o sono, o que reduz ou até interrompe o fluxo de ar para os pulmões — mesmo que o corpo continue tentando respirar.

Essa obstrução geralmente ocorre na faringe, uma região da garganta que é naturalmente mais flexível e precisa de força muscular para se manter aberta enquanto dormimos5.

Por que isso acontece? Alguns fatores podem contribuir5:

Relaxamento dos músculos da garganta durante o sono, o que facilita o fechamento da passagem de ar — especialmente na fase mais profunda do sono;

Acúmulo de gordura ao redor do pescoço ou da garganta, que comprime as vias aéreas por dentro e por fora;

Características anatômicas que estreitam naturalmente a passagem do ar, como:

  • pescoço largo,
  • queixo pequeno ou recuado (conhecido como queixo para trás),
  • céu da boca alto e estreito,
  • base da língua larga,
  • ou amígdalas aumentadas;
  • Vias aéreas mais “flexíveis” ou frágeis, que tendem a se fechar com facilidade mesmo sem obstruções visíveis — como se a garganta fosse uma passagem estreita que colapsa sob a própria pressão;
  • Falta de resposta muscular adequada durante o sono: nosso corpo deveria ativar automaticamente os músculos da garganta para manter a passagem aberta, mas em algumas pessoas essa resposta é fraca ou atrasada, dificultando a retomada da respiração;
  • Fatores temporários: como o uso de medicamentos sedativos, ingestão de álcool, que reduzem o tônus muscular e aumentam o risco de obstruções.

Essas paradas repetidas na respiração reduzem a oxigenação do corpo e fragmentam o sono, impedindo que ele cumpra seu papel restaurador. Mesmo que a pessoa não perceba, o organismo passa a funcionar sob estresse constante durante a noite. Com o tempo, isso pode contribuir para problemas como pressão alta, batimentos irregulares, ganho de peso, queda de energia, dificuldade de concentração, lapsos de memória e alterações do humor — além de aumentar o risco de acidentes e reduzir a qualidade de vida de forma silenciosa5.

imagem ilustrativa APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO (AOS)

Apneia Central do Sono (ACS)

A apneia central do sono é um tipo menos comum de distúrbio respiratório, e seu mecanismo é diferente da apneia obstrutiva.

Neste caso, o problema não está na passagem do ar, mas na falta de comando do cérebro para respirar. Durante uma apneia central, a via aérea está aberta, mas o corpo simplesmente deixa de fazer o movimento de respirar por alguns segundos, porque o cérebro não envia o sinal necessário aos músculos responsáveis pela respiração. Ou seja, não há obstrução — mas também não há esforço respiratório6.

Esse tipo de apneia pode ocorrer em situações específicas, como7:

  • Insuficiência cardíaca congestiva: especialmente associada à respiração de Cheyne-Stokes, um padrão respiratório anormal com períodos de hiperventilação seguidos por apneias.
  • Acidente vascular cerebral (AVC): lesões no tronco encefálico podem afetar os centros de controle respiratório, levando à ACS.
  • Lesões ou doenças neurológicas: condições como malformação de Chiari tipo I, doenças neurodegenerativas (por exemplo, Parkinson) e tumores cerebrais podem comprometer a regulação da respiração.
  • Uso de opioides e outros medicamentos: substâncias como morfina, oxicodona e certos sedativos podem suprimir o impulso respiratório durante o sono.
  • Exposição a grandes altitudes: a redução da pressão de oxigênio em altitudes elevadas pode desencadear episódios de ACS, especialmente em indivíduos não aclimatados.
  • Apneia do sono emergente ao tratamento da AOS: em alguns casos, a ACS pode emergir durante o tratamento da apneia obstrutiva com dispositivos de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP), caracterizando a chamada apneia do sono emergente.

Embora possa ser silenciosa e passar despercebida, a apneia central também fragmenta o sono e compromete a oxigenação do organismo, exigindo avaliação de um profissional de saúde especializado em sono para diagnóstico e tratamento adequados.

imagem ilustrativa APNEIA CENTRAL DO SONO (ACS)

Apneia Mista do Sono

A apneia mista do sono é um distúrbio respiratório caracterizado por eventos que combinam características da apneia obstrutiva e da apneia central. Geralmente, um episódio de apneia mista inicia-se como uma apneia central, na qual há ausência de esforço respiratório devido à falha no envio de sinais do cérebro aos músculos responsáveis pela respiração. Em seguida, evolui para uma apneia obstrutiva, onde ocorre o colapso das vias aéreas superiores, impedindo a passagem do ar, mesmo com o esforço respiratório presente. Esse tipo de apneia é menos comum e sua identificação requer exames específicos, como a polissonografia ou poligrafia tipo 3 (exame domiciliar), que permite diferenciar os padrões respiratórios e identificar a presença de eventos mistos8.

Suspeita de apneia do sono? Busque avaliação com um profissional especializado em sono para conduzir o diagnóstico correto e orientar o tratamento.

imagem ilustrativa APNEIA MISTA DO SONO

Quais são os sinais e sintomas mais comuns da apneia do sono9?

  • Ronco alto e frequente
  • Pausas respiratórias (apneias) seguidas por engasgos ou suspiros
  • Sono agitado ou movimentos bruscos
  • Despertares recorrentes com sensação de sufocamento
  • Engasgos noturnos
  • Boca seca ao acordar
  • Sonolência diurna excessiva
  • Dificuldade para acordar de manhã
  • Irritabilidade ou instabilidade emocional
  • Necessidade de cochilar durante o dia
  • Baixo rendimento no trabalho ou nos estudos
  • Refluxo gastroesofágico

O que pode causar a Apneia do Sono?

A apneia do sono geralmente não tem uma única causa. Esse distúrbio multifatorial pode surgir a partir de uma combinação de fatores físicos, comportamentais e genéticos que aumentam a chance de obstrução das vias respiratórias durante o sono.

Entre os principais fatores de risco conhecidos estão10:

  • Excesso de peso corporal
    O acúmulo de gordura na região do pescoço, tórax e abdômen pode comprimir as vias aéreas e aumentar a resistência à passagem do ar — especialmente quando o corpo está relaxado durante o sono. A obesidade é, atualmente, o fator de risco isolado mais associado à apneia obstrutiva do sono.
  • Alterações anatômicas que estreitam a garganta
    Características como amígdalas aumentadas, língua volumosa, céu da boca alto e estreito, queixo retraído (retrognatismo) ou um pescoço largo podem reduzir o espaço disponível para a passagem do ar e favorecer o colapso da via aérea durante o sono.
  • Envelhecimento natural
    Com o avanço da idade, há uma tendência à perda de tônus muscular, incluindo os músculos que mantêm a garganta aberta durante o sono. Isso torna a via aérea mais suscetível ao fechamento, mesmo em pessoas sem alterações anatômicas marcantes.
  • Uso de álcool, sedativos ou relaxantes musculares
    Essas substâncias relaxam excessivamente a musculatura da faringe, facilitando o colapso das vias respiratórias — especialmente se consumidas à noite.
  • Predisposição genética e familiar
    Ter familiares com diagnóstico de apneia do sono pode indicar características hereditárias que aumentam o risco, como formato do rosto, estrutura da mandíbula ou funcionamento do controle respiratório durante o sono.
  • Sexo e alterações hormonais
    Homens apresentam maior risco de desenvolver apneia do sono, principalmente na idade adulta. Já nas mulheres, o risco aumenta significativamente após a menopausa, quando há queda dos hormônios sexuais que antes ajudavam a proteger o tônus das vias respiratórias. Por isso, muitas mulheres passam a manifestar sintomas apenas nessa fase da vida.
  • Outros fatores agravantes
    • Tabagismo, que promove inflamação crônica das vias aéreas superiores;
    • Congestão nasal frequente, que força a respiração bucal e aumenta a resistência ao fluxo de ar;
    • Refluxo gastroesofágico noturno, que pode piorar a obstrução respiratória.

Reconhecer os fatores de risco e os sinais da apneia do sono é o primeiro passo para cuidar da sua saúde de forma proativa. Se você se identifica com algum desses perfis ou tem percebido sintomas como cansaço constante, ronco alto ou dificuldade de concentração, procure um profissional de saúde especializado em sono. Um diagnóstico preciso, feito no momento certo, pode não só melhorar a qualidade do seu sono — mas transformar sua energia, disposição e saúde como um todo.

Como é feito o diagnóstico da apneia do sono?

O diagnóstico da apneia obstrutiva do sono começa com uma avaliação clínica detalhada conduzida por um profissional de saúde especializado em medicina do sono. Nessa etapa, são investigados os sintomas típicos — como ronco alto, sonolência diurna e sensação de sono não reparador — além da presença de fatores de risco anatômicos, fisiológicos e comportamentais. Com base nessa triagem, o paciente pode ser classificado como de alto ou baixo risco para apneia do sono, o que ajuda a definir qual exame é mais indicado11.

Atualmente, existem quatro categorias de exames do sono, classificadas de acordo com o número e tipo de parâmetros monitorados12:

Tipo 1: Polissonografia completa realizada em laboratório, com supervisão presencial e registro simultâneo de múltiplas variáveis (sono, respiração, movimentos, oxigenação, atividade cerebral). Indicada para o diagnóstico de diversos distúrbios do sono além da AOS.

Tipo 2: Polissonografia realizada em casa com o mesmo número de canais do exame em laboratório, mas sem supervisão técnica presencial.

Tipo 3: Poligrafia respiratória domiciliar, que monitora parâmetros cardiorrespiratórios e oxigenação.

Tipo 4: Monitoramento simplificado de um ou dois parâmetros, geralmente fluxo aéreo e oxigenação.

O profissional especializado em sono é quem irá determinar qual tipo de exame é o mais indicado para o seu caso, com base no risco clínico, na presença ou não de comorbidades e na qualidade dos sintomas relatados.

Confirmar o diagnóstico de AOS e identificar a gravidade dos eventos respiratórios é essencial para definir a melhor abordagem terapêutica e melhorar de forma significativa sua qualidade de vida e saúde geral.

Se você sente cansaço constante, ronca com frequência ou tem a sensação de sono não reparador, converse com seu profissional de saúde especializado em sono sobre a possibilidade de realizar esse exame.

Por que reconhecer esses fatores é tão importante?

Identificar os possíveis causadores da apneia do sono é o primeiro passo para buscar ajuda, reduzir riscos e iniciar o tratamento adequado. Se você tem alguns desses fatores e apresenta sinais e sintomas como ronco alto, cansaço excessivo, sonolência durante o dia ou dificuldade de concentração, converse com um profissional de saúde especializado em sono. O diagnóstico precoce pode transformar sua qualidade de vida — e sua saúde como um todo.

Perguntas Frequentes

Sim, a apneia do sono pode ser uma condição perigosa pois se relaciona a diversos problemas de saúde, como risco cardiovascular aumentado quando não tratada. ¹

Apneia do Sono não tratada pode tambem leva a sonolência durante o dia, que faz com que você esteja mais propensa a acidentes ao dirigir e no local de trabalho.

Muitas pessoas têm Apneia do Sono e não sabem disso. Se você achar que pode ter sintomas deste transtorno,você deve procurar um especialista e realizar um teste do sono.

1. Young T et al. Sleep disordered breathing and mortality: eighteen-year follow-up of the Winsconsin sleep cohort. Sleep. 2008; 31(8): 1071-78.

Estudos mostram que existe um componente hereditário para Apneia do Sono, porém a maior parte dos fatores de risco são ambientais. ²

2. Sleiman P e Hakonarson H. Genetic underpinnings of obstructive sleep apnea: are we making progress? Sleep. 2011; 34: 1461-68.

Não existe hoje cura para a Apneia do Sono, mas existem várias opções diferentes de tratamento disponíveis para isso. Observe que as opções de tratamento dependerão do tipo e gravidade da Apneia do Sono.

Opções de tratamento para Apneia Obstrutiva do Sono incluem:

  • CPAP (pressão positiva contínua no caminho do ar);
  • Mudanças no estilo de vida;
  • Dormir de lado;
  • Aparelhos orais;
  • Cirurgia.

Não, o desvio de septo não pode causar Apneia do Sono, mas pode aumentar a severidade da Apneia do Sono presente. Se você tem o desvio de septo então seus sintomas podem ser piores. Você também pode observar um aumento nos eventos de Apneia durante o sono.

Embora um desvio de septo não tenha mostrado ser a causa direta desta condição, isto pode ser usado para ajudar a identificar que a condição está presente em primeiro lugar.

Se você for alguém que tem desvio de septo e acredita que esteja afetando seu sono, então recomendamos que você consulte um especialista para discutir as opções que estão disponíveis para você.

Sim, estar com sobrepeso pode causar Apneia do Sono. A obesidade e o excesso de peso são as causas mais comuns de Apneia do Sono.

A asma e a Apneia do Sono são duas condições que geralmente caminham juntas. É importante que as pessoas com asma estejam cientes dos sintomas da Apneia do Sono a fim de garantir que estão recebendo o tratamento requerido e apropriado.

Referências

1.Gottlieb DJ, Punjabi NM. Diagnosis and Management of Obstructive Sleep Apnea: A Review. JAMA. 2020 Apr 14;323(14):1389-1400. doi: 10.1001/jama.2020.3514. PMID: 32286648.

2.Tufik S, Santos-Silva R, Taddei JA, Bittencourt LR. Obstructive sleep apnea syndrome in the São Paulo Epidemiologic Sleep Study. Sleep Medicine. 2010 Sep;11(5):441–6. doi: .1016/j.sleep.2009.10.005

3.Slowik JM, Sankari A, Collen JF. Obstructive Sleep Apnea. [Updated 2025 Mar 4]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459252/

4.Torres G, Sánchez de la Torre M, Pinilla L, Barbé F. Obstructive sleep apnea and cardiovascular risk. Clin Investig Arterioscler. 2024 Jul-Aug;36(4):234-242. English, Spanish. doi: 10.1016/j.arteri.2024.01.004. Epub 2024 Feb 26. PMID: 38413245.

5.Slowik JM, Sankari A, Collen JF. Obstructive Sleep Apnea. [Updated 2025 Mar 4]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan-. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459252

6.Badr MS, Dingell JD, Javaheri S. Central Sleep Apnea: a Brief Review. Curr Pulmonol Rep. 2019 Mar;8(1):14-21. doi: 10.1007/s13665-019-0221-z. Epub 2019 Mar 13. PMID: 31788413; PMCID: PMC6883649.

7.Roberts EG, Raphelson JR, Orr JE, LaBuzetta JN, Malhotra A. The Pathogenesis of Central and Complex Sleep Apnea. Curr Neurol Neurosci Rep. 2022 Jul;22(7):405-412. doi: 10.1007/s11910-022-01199-2. Epub 2022 May 19. PMID: 35588042; PMCID: PMC9239939.

8.Liu P, Chen Q, Yuan F, Zhang Q, Zhang X, Xue C, Wei Y, Wang Y, Wang H. Clinical Predictors of Mixed Apneas in Patients with Obstructive Sleep Apnea (OSA). Nat Sci Sleep. 2022 Mar 5;14:373-380. doi: 10.2147/NSS.S351946. PMID: 35280432; PMCID: PMC8906897.

9.Slowik JM, Sankari A, Collen JF. Obstructive Sleep Apnea. 2025 Mar 4. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 Jan–. PMID: 29083619.

10.Mitra AK, Bhuiyan AR, Jones EA. Association and Risk Factors for Obstructive Sleep Apnea and Cardiovascular Diseases: A Systematic Review. Diseases. 2021 Dec 2;9(4):88. doi: 10.3390/diseases9040088. PMID: 34940026; PMCID: PMC8700568.

11.Gottlieb DJ, Punjabi NM. Diagnosis and Management of Obstructive Sleep Apnea: A Review. JAMA. 2020 Apr 14;323(14):1389-1400. doi: 10.1001/jama.2020.3514. PMID: 32286648.

12.Kapur VK, Auckley DH, Chowdhuri S, Kuhlmann DC, Mehra R, Ramar K, Harrod CG. Clinical Practice Guideline for Diagnostic Testing for Adult Obstructive Sleep Apnea: An American Academy of Sleep Medicine Clinical Practice Guideline. J Clin Sleep Med. 2017 Mar 15;13(3):479-504. doi: 10.5664/jcsm.6506. PMID: 28162150; PMCID: PMC5337595.